Mergulhei naquele rio de águas turvas. Um mergulho profundo em minha consciência. Estava silencioso, a princípio, um calafrio revestido de medo. Um vazio. O ar gélido entra por meus poros e fica. A morte passa perto todos os dias, o choro tranca, a voz não sai, o tempo passa, quero que passe logo, ele não passa. Rezo, penso, quero, deixo. Que dias melhores aconteçam, que dias melhores venham, que os que amam fiquem. Que saudade de dançar, nenhum movimento sai de meu corpo há mais de três meses, sinto falta mas a tristeza às vezes é tão maior que qualquer força de movimento físico. O palco, a platéia, os sorrisos, os aplausos, que saudades! O centro do palco, as luzes em meus olhos, as demarcações que eu detestava e agora até isso me faz falta. Odeio o barulho da música dos vizinhos, ser obrigada a escutar música que não gostamos é totalmente devastador. É enterrar a própria paciência em buraco único sem abertura. Vou beber para passar o incômodo, vou tomar um remédio para anestesiar a dor, vou fingir que não estou aqui. O barulho continua, as risadas aumentam, a irritação permanece do lado de cá. Enfim a paz! Tocando em toda a minh’alma! Como um rio que corre em movimentos arredondados, nunca parando, desaguando em águas maiores. É assim em certos momentos quando o silêncio me toca. Um anjo conversando com minha alma, uma dor que se foi e às vezes volta só para dizer que ainda está ali, mesmo não querendo que ela esteja. É um pavor no fundo da alma que escurece tudo ao redor. É uma dor que não passa e fica, fica, fica. Um sol que brilha e toca meu rosto como se me dissesse que ainda tenho força para continuar. É a paz que persigo e não consigo alcançar, não seria mais inteligente não perseguir? Talvez encontrar? Como se faz? Será que alguém um dia poderá responder?
Rose Rabelo
Autora
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