quarta-feira, 9 de junho de 2021

A Conferência das Palavras

 




Naquela comprida mesa foram todas se sentar

As Palavras lado a lado decidindo qual delas um prêmio de “Palavra do Ano” merecia ganhar

Olhos nos Olhos

Se é que Palavras, olhos podem achar

 

A Realidade bateu à mesa e foi logo a falar:

“Eu estou em alta, meus amigos, não há outra Palavra para os dias de hoje mais salutar”

O Sonho se apressou em polvoroso:

 “Mas isso que não permitirei jamais! Que mergulhem todos em Realidade e fujam do que vivem a Sonhar. Eu dou razão de viver nesses dias de cão, onde nada se tem a esperar”

 

O Café se meteu, sem ninguém a perguntar:

“E quem ajuda a todos suportar uma reunião como esta, por exemplo, sem nem piscar?”

O Maracujá gritou:

“Ora, não se faça de doido! Que tu ajudas a acordar e eu muito melhor que isso a acalmar”

 

A Paciência pediu calma

A Arrogância nem ousou perder seu tempo a falar

 

O Mar resolveu articular

“E quem vocês acham que eles procuram para mergulhar, e os pesos do corpo e da alma lavar?”

A areia invocou-se:

“Ora Vamos! Pare com essa autoadulação, pois sem mim nem chegariam até ti, como seria a praia sem chão?”

 

A Pipoca pulou “E eu? Que confissões e emoções dos enamorados sempre estou a acompanhar?”

O Filme discordou e antes de falar a TV gritou:

“Nós também sempre estamos lá”

 

O Carro, O Celular, a Traição e o Marido juntaram-se em um motim contra a Mulher, Esposa e a Amante que discutiam de quem era o direito por lei ao prêmio ganhar

 

E em meio a tanta confusão a Literatura se ergueu com uma caneta à mão:

“Parem todas, Palavras ingratas, se todas nós brigarmos, quem poderá a humanidade auxiliar?”

 

A Esperança iniciou um cântico

O Milagre ajudou

 

A Razão se irritou: “Calem-se todas. Eu é que vou resolver toda essa loucura!”

A Loucura em círculos a dançar sussurrou do canto da sala:

“Até parece que alguém tu podes curar”

 

A Perdida passou a mão na testa e respirou:

“Estou sempre perdida, nada mais tenho a dize não ...”

 

O Chocolate que conversava com a Torta soltou:

“Oras, todos sabem que Eu deveria o prêmio ganhar, dizem que sou melhor que sexo e isso deve contar”

O sexo, que estava em silêncio até agora, gemendo começou a falar

 

O Respeito se envolveu

“Parem com isso que a todos vocês estão a envergonhar!”

 

A COVID se meteu, mas a Ninguém nem a deixou falar:

“Você nasceu ontem e já quer a todos dominar?”

 

E por fim, com autoridade a Consciência arrematou:

“Estou exausta! Se os humanos se vão; vamos todas com eles e quem sobraria para nos juntar em harmonia?”

 

Do fundo da sala a Arte apontou:

“Ela, A POESIA!”

 

Rose Rabelo

Autora

 


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