Naquela comprida mesa foram todas se sentar
As
Palavras lado a lado decidindo qual delas um prêmio de “Palavra do Ano” merecia
ganhar
Olhos
nos Olhos
Se
é que Palavras, olhos podem achar
A
Realidade bateu à mesa e foi logo a falar:
“Eu
estou em alta, meus amigos, não há outra Palavra para os dias de hoje mais
salutar”
O
Sonho se apressou em polvoroso:
“Mas isso que não permitirei jamais! Que
mergulhem todos em Realidade e fujam do que vivem a Sonhar. Eu dou razão de
viver nesses dias de cão, onde nada se tem a esperar”
O
Café se meteu, sem ninguém a perguntar:
“E
quem ajuda a todos suportar uma reunião como esta, por exemplo, sem nem piscar?”
O
Maracujá gritou:
“Ora,
não se faça de doido! Que tu ajudas a acordar e eu muito melhor que isso a
acalmar”
A
Paciência pediu calma
A
Arrogância nem ousou perder seu tempo a falar
O
Mar resolveu articular
“E
quem vocês acham que eles procuram para mergulhar, e os pesos do corpo e da
alma lavar?”
A
areia invocou-se:
“Ora
Vamos! Pare com essa autoadulação, pois sem mim nem chegariam até ti, como
seria a praia sem chão?”
A
Pipoca pulou “E eu? Que confissões e emoções dos enamorados sempre estou a
acompanhar?”
O
Filme discordou e antes de falar a TV gritou:
“Nós
também sempre estamos lá”
O
Carro, O Celular, a Traição e o Marido juntaram-se em um motim contra a Mulher,
Esposa e a Amante que discutiam de quem era o direito por lei ao prêmio ganhar
E
em meio a tanta confusão a Literatura se ergueu com uma caneta à mão:
“Parem
todas, Palavras ingratas, se todas nós brigarmos, quem poderá a humanidade
auxiliar?”
A
Esperança iniciou um cântico
O
Milagre ajudou
A
Razão se irritou: “Calem-se todas. Eu é que vou resolver toda essa loucura!”
A
Loucura em círculos a dançar sussurrou do canto da sala:
“Até
parece que alguém tu podes curar”
A
Perdida passou a mão na testa e respirou:
“Estou
sempre perdida, nada mais tenho a dize não ...”
O
Chocolate que conversava com a Torta soltou:
“Oras,
todos sabem que Eu deveria o prêmio ganhar, dizem que sou melhor que sexo e
isso deve contar”
O
sexo, que estava em silêncio até agora, gemendo começou a falar
O
Respeito se envolveu
“Parem
com isso que a todos vocês estão a envergonhar!”
A
COVID se meteu, mas a Ninguém nem a deixou falar:
“Você
nasceu ontem e já quer a todos dominar?”
E
por fim, com autoridade a Consciência arrematou:
“Estou
exausta! Se os humanos se vão; vamos todas com eles e quem sobraria para nos
juntar em harmonia?”
Do
fundo da sala a Arte apontou:
“Ela,
A POESIA!”
Rose
Rabelo
Autora
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