quinta-feira, 23 de março de 2023



Eu tenho duas manchinhas de sol nas mãos. E mesmo usando protetor solar todos os dias e fazendo tratamento de pele por alguns meses, elas persistem, resistem, permanecem.

❤️ Semana passada enquanto eu tomava café comentei isso com meu pai, na realidade eu reclamei com ele que não conseguia arrancar as manchas das minhas mãos.

🍃 Foi quando ele me perguntou: "Mas porque você faria isso? Elas são iguais as minhas; e as minhas são como as do teu avô."

❤️ E, eu, ainda sem entender a beleza do que ele me dizia, perguntei: Como assim, pai? Mancha de pele é feio. 

🍃 Sabe, filha, quando eu era menino, eu saia com teu avô para ir até a cidade de charrete, e enquanto ele dava a direção ao cavalo, eu admirava (e notem que meu pai utilizou o verbo "admirar" e não olhar) as manchas das mãos dele.

❤️ Aquelas pintas pareciam um pequeno mapa da vida incrível que ele desenhou. Eu ia no caminho perguntando pra teu avô como ele conquistou cada uma delas, ele sempre respondia: "Sei lá, filho. Elas só chegam e ficam."

🍃E eu pensava: Quando crescer quero ter pintas nas mãos, como meu pai. E hoje eu tenho - levantou as mãos me mostrando todo orgulhoso - olha como elas são lindas, filha. E agora você também tem."

❤️ Meu pai me deu um olhar magnífico, me deu uma história. Agora não odeio mais as minhas pintas, elas são como as do meu pai e do meu avô. Elas são minhas. Não é incrível como tudo muda quando olhamos as circunstâncias com amor?

Obrigada pai!❤️🌷

Rose Rabelo

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Ei, Capitu!




     É com muita alegria que compartilho com todos vocês, queridos leitores que o meu livro "A vida como ela pode ser" em formato físico está em pré-venda. Ficou interessado? Entre em contato comigo através do @capitumecontou no Instagram.

Ótima semana a todos!

Rose Rabelo
Escritora
Professora de Escrita Literária 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Os Bem Casados

 


O Casal


    Ana Beatriz e Marcos eram o que se chamava de o casal perfeito. Lindos e ricos. Ela de uma tez bronzeada, olhos verdes brilhantes, cabelos negros e compridos abaixo da cintura, corpo bem desenhado. Ele, por sua vez, moreno claro, olhos vibrantes, braços torneados, caixa torácica sobressaltada. Socialmente amados e de imagem imaculada: não bebiam em excesso, não fumavam, exercitavam-se diariamente, falavam línguas. Eram o brilho dos pais e de seus vários admiradores sociais. E a simpatia? Não havia em toda região quem não gostasse do casal. Quando iniciaram o namoro, todos fizeram muito gosto. Ana Beatriz estava finalizando o curso em direito, não que ela entendesse necessariamente de leis, mas seu pai fazia questão, era bom para sua imagem de empreendedor ter filha advogada. Marcos, já estava em seu último ano de engenharia, com projetos certos na empresa de seu pai.

    O casamento aconteceu depois de um ano de namoro. Foi ao ar livre, na praia, monitorado pelo jornal e com fotos para a coluna “comunidade rica”.  Ela chegou à areia de barco, com vestido esvoaçante, tão branco como seus dentes clareados. Ele, de camisa azulada e calção social, ambos de chinelo, para combinar com as areias.

    A felicidade era geral, não havia casal mais feliz e realizado! Não havia festa mais bem organizada e de causar inveja, a quem se dava ao trabalho do sentimento. Lua de mel? Na Europa, claro! Partiram os dois pombinhos logo depois da cerimônia.


A Amiga


    Vivian era a melhor amiga de Ana Beatriz desde sempre. Estudaram juntas no mesmo colégio particular. A primeira por ser rica, a segunda por ser filha do motorista do pai de Beatriz. Porém, isso não as impedia de tamanha amizade e comprometimento. Vivian tinha algumas dificuldades nos estudos, eis que a gentileza e bondade de Beatriz sempre a auxiliava. É certo que durante os anos de faculdade, Ana também a auxiliaria, não somente a pagar os estudos, como também a conquistar pequenos prazeres, por exemplo, uma viagem a Disney, que era o sonho de Vivian, uma bolsa Prada de presente de aniversário, um anel de ouro sem motivo algum. Mas para quem é nascida de berço, o que é um pequeno presente de ouro em pagamento de tamanha amizade e lealdade?

    Vivian a tratava como a melhor pessoa que já conhecera, e é bem provável, que tenha sido a melhor mesmo. Sempre a estender-lhe tapete vermelho, elogios, conselhos amorosos. Quando Ana conheceu Marcos, Vivian foi a primeira a saber e também, a primeira a conhecê-lo.

— Sim, amiga! Ele é a sua cara, esse sim vale a pena investir.

— Ora essa, investir! Vivian, você tem cada uma... Homem não é bolsa de valores não! Eu amo ele.

— Pode ser amiga, pode ser — dizia Vivian com um sorriso maroto no rosto. 

    No dia do casamento, Vivian estava na primeira fila, junto à família de Ana Beatriz e Marcos. Foi a primeira a abraçá-los e desejar boa-viagem e felicidades. Boa e fiel amiga!


A volta da lua de mel 


    Após trinta dias, estavam de volta ao Brasil mais lindos e bronzeados do que nunca. Vivian, assim como a família de ambos, foi aguardá-los no aeroporto e, obviamente, foi a primeira a cumprimentá-los. 

— Meu Deus, amiga! Quase morri de tantas saudades de vocês. Olhe, não me façam mais isso, hein?! — disse Vivian.

    Ao que os dois, responderam:

— Na próxima levamos você.

— Olha que cobrarei, heim? — responde Vivian.

    Seguiram todos ao restaurante mais caro da cidade, restaurante japonês, o preferido de Vivian, para jantar.

    Nas semanas seguintes, os encontros entre Vivian e o casal eram rotineiros. Três ou quatro vezes na semana para almoços em restaurantes caros, cinemas, teatros, tudo escolhido pela melhor amiga de Beatriz, e pago pelo casal. Tudo regado de boa conversa, risada e profunda amizade. Vivian morava no subúrbio, apartamento pequeno e nada acolhedor, que a amiga ajudava a pagar quando o sufoco de um desemprego, algo bem comum na vida de Vivian, ou qualquer outra intempérie acontecia na vida da pobre. 

Marcos percebia e, algumas vezes, tentou questionar Beatriz sobre essa relação. Em algumas conversas, deu a entender à amada o quando Vivian “abusava” de sua bondade. Mas percebendo a tristeza da esposa ao falar da amiga, resolveu não tocar mais no assunto, afinal de contas, o que é o dinheiro perto de uma amizade profunda de tantos anos? E, aos poucos, ele mesmo se viu simpatizado por Vivian. Moça dedicada, inteligente e alegre, valia a pena tê-la por perto.


A loucura


    Dois anos e meio de casados. Havia sete meses que Marcos vinha apresentando alguns hábitos que começavam a assustar Beatriz: passava noites em claro, não trabalhava direito, não comia, o corpo atlético perdia massa e cor. Não achava mais graça nos passeios, tampouco, nas conversas em trio. Aos poucos, a conexão entre eles estava se perdendo. A esposa, profundamente preocupada, tentava conversar com o amado de todas as formas, porém só conseguia um balbuciar:

— Estou só cansado, querida, só cansado. — Virava o rosto tristemente.

    A amiga e confidente tentou ajudá-la de todas as formas. Procuraram juntas psicólogo, psiquiatra, macumbeiro, reikiano e nada, absolutamente, nada.

    Cansada e desesperada, Ana Beatriz desabafou:

— Vivian, desisto! Não consigo mais lidar com toda essa dor do Marcos. Eu não entendo, não sei como agir.

— Não se entristeça, minha amiga. Deve ser algo do trabalho, já conversou com o pessoal lá? Quem sabe eles te darão alguma pista.

— Que boa ideia, amiga! Irei amanhã mesmo. — respondeu Beatriz.

— Vem, vamos jantar só nós duas. Deixe Marcos descansar. Você precisa se animar um pouco, dois doentes em casa não há quem se salve, não é mesmo? Hoje eu pago.

— Ora essa, dona Vivian, tá podendo assim, é? Esse seu trabalho novo está te rendendo, hein?! Em menos de um ano, carro e apartamento novo. Você é tão batalhadora… Fico tão feliz por você, amiga!

— Pois é! Tanto investimento na minha carreira e agora tudo dando certo. Mas pelo amor de Deus, chega de falar de mim, vamos falar de você … Como se sente? — e continuaram a falar de Marcos e suas tristezas durante todo o jantar.

    Ao voltar para casa, Beatriz entra no quarto e se depara com o corpo de Marcos pendurado no lustre de cristal, valiosíssimo, no meio do quarto. A amiga que a acompanhava, abraçou-a. Com gesto demasiado teatral, disse:

— Pobrezinho do Marcos, a loucura tomou conta de sua alma!

A Pedra


    Vivian tomou conta de todos os detalhes para a amiga. Ligou para os parentes, chamou a polícia, ajustou os detalhes do enterro e todas as questões necessárias. Depois de tudo, ajudou a amiga a tomar banho e se vestir. Dormiu na casa dela e acompanhou-a no enterro no dia seguinte. Depois de uma semana na casa de Ana Beatriz estendendo seu profundo apoio e amor, precisou ir no seu apartamento.

 — Preciso regar as plantas. Daqui há alguns dias eu volto, fique tranquila.

    Pegou seu carro importado e parou em frente a um “pub”, o mais badalado na cidade. Chegando lá, Vivian se preencheu com tudo que ela mais gostava: bebida, música alta e homens. Dali, partiu para um motel acompanhada de dois rapagões, jovens, bonitos e atléticos, como ela gostava. Fartou-se como pode. No dia seguinte, retornou para sua cobertura de enorme piscina e com vista para o mar, sem nenhuma planta. Tomou banho, apertou o botão da cafeteira importada e tirou uma xícara de café expresso puro. Sentou-se na varanda de vidro e mirou o mar. Abriu um bilhete escrito, à mão, por Marcos há mais ou menos um ano atrás. 


“Vivian, não conte nada a Ana ela jamais suportará. O que você quer para que nossa noite fique apenas entre nós? Carro? Casa? Dinheiro? Te darei tudo, tudo. Só te peço, não espalhe essa história, minha família e nossos conhecidos jamais entenderiam. Apague o vídeo, por favor! Eu te dou tudo, tudo que quiseres! Por favor”


— Marcos, Marcos… Menos uma pedra no meu sapato! Poderia ser tudo tão diferente, se você não fosse tão paspalho! Consumido pela culpa, aff! paspalho.

    Rasgou o pedacinho de papel que guardava havia tantos meses. Pegou o telefone, abriu um  vídeo, assistiu novamente, se deliciou com as cenas pela última vez e deletou. Abriu outro vídeo, mais recente, assistiu, gargalhou, encaminhou para Ana Beatriz. Dali a quinze minutos, recebeu uma mensagem.

— Vivian, o que você quer para que nossa noite fique entre nós? Minha família, meus amigos ...


Rose Rabelo

Escritora

quarta-feira, 9 de junho de 2021

A Conferência das Palavras

 




Naquela comprida mesa foram todas se sentar

As Palavras lado a lado decidindo qual delas um prêmio de “Palavra do Ano” merecia ganhar

Olhos nos Olhos

Se é que Palavras, olhos podem achar

 

A Realidade bateu à mesa e foi logo a falar:

“Eu estou em alta, meus amigos, não há outra Palavra para os dias de hoje mais salutar”

O Sonho se apressou em polvoroso:

 “Mas isso que não permitirei jamais! Que mergulhem todos em Realidade e fujam do que vivem a Sonhar. Eu dou razão de viver nesses dias de cão, onde nada se tem a esperar”

 

O Café se meteu, sem ninguém a perguntar:

“E quem ajuda a todos suportar uma reunião como esta, por exemplo, sem nem piscar?”

O Maracujá gritou:

“Ora, não se faça de doido! Que tu ajudas a acordar e eu muito melhor que isso a acalmar”

 

A Paciência pediu calma

A Arrogância nem ousou perder seu tempo a falar

 

O Mar resolveu articular

“E quem vocês acham que eles procuram para mergulhar, e os pesos do corpo e da alma lavar?”

A areia invocou-se:

“Ora Vamos! Pare com essa autoadulação, pois sem mim nem chegariam até ti, como seria a praia sem chão?”

 

A Pipoca pulou “E eu? Que confissões e emoções dos enamorados sempre estou a acompanhar?”

O Filme discordou e antes de falar a TV gritou:

“Nós também sempre estamos lá”

 

O Carro, O Celular, a Traição e o Marido juntaram-se em um motim contra a Mulher, Esposa e a Amante que discutiam de quem era o direito por lei ao prêmio ganhar

 

E em meio a tanta confusão a Literatura se ergueu com uma caneta à mão:

“Parem todas, Palavras ingratas, se todas nós brigarmos, quem poderá a humanidade auxiliar?”

 

A Esperança iniciou um cântico

O Milagre ajudou

 

A Razão se irritou: “Calem-se todas. Eu é que vou resolver toda essa loucura!”

A Loucura em círculos a dançar sussurrou do canto da sala:

“Até parece que alguém tu podes curar”

 

A Perdida passou a mão na testa e respirou:

“Estou sempre perdida, nada mais tenho a dize não ...”

 

O Chocolate que conversava com a Torta soltou:

“Oras, todos sabem que Eu deveria o prêmio ganhar, dizem que sou melhor que sexo e isso deve contar”

O sexo, que estava em silêncio até agora, gemendo começou a falar

 

O Respeito se envolveu

“Parem com isso que a todos vocês estão a envergonhar!”

 

A COVID se meteu, mas a Ninguém nem a deixou falar:

“Você nasceu ontem e já quer a todos dominar?”

 

E por fim, com autoridade a Consciência arrematou:

“Estou exausta! Se os humanos se vão; vamos todas com eles e quem sobraria para nos juntar em harmonia?”

 

Do fundo da sala a Arte apontou:

“Ela, A POESIA!”

 

Rose Rabelo

Autora

 


quarta-feira, 21 de abril de 2021

O décimo andar

 



    Saltou da janela do décimo andar com a certeza de que seus problemas seriam resolvidos. Milésimos antes de tocar no chão se arrependeu, não havia mais tempo. De um grito profundo e oco, acordou. Respirou. Era sua segunda chance batendo à porta.

Rose Rabelo
Autora

A Saga


 

            Batom vermelho, Vestido audacioso, Salto agulha, Cílios Postiço, Cabelo liso com chapinha e levemente ondulado nas pontas. Em duas horas, ela estava pronta para sair; Em vinte minutos ele estava pronto para sair; Em quinze minutos ele estava satisfeito e dormindo; Ela, insatisfeita e solitária.


Rose Rabelo
Autora

quarta-feira, 31 de março de 2021

As Pernas

 


A simples lembrança do perfume amendoado de Lilian o fazia aumentar ainda mais seu caminhar. Entre as ruas úmidas, os barulhos ensurdecedores de buzinas de carros, transeuntes atravancados entre si, Juliano era uma mistura de distração interna com o trabalho automático e veloz de suas pernas, amadas pernas, que o guiavam de forma certeira ao lugar de destino e deixava seu coração e cérebro livres para flutuar nos sentidos e lembranças do toque do corpo dela em seu corpo, do som de sua voz macia e felpuda escorregando para dentro de seus ouvidos, do beijo dado atrás de sua orelha ensurdecendo outros sons por alguns instantes, instigando seus mais secretos sentidos.

— Acorda, Homem! Chegamos. — Trepidaram suas pernas.

 

E lá estava Juliano em frente à casa de Lilian.

 

— Obrigado, queridas pernas! 



Rose Rabelo

Autora

sexta-feira, 5 de março de 2021

Saudade

 


Entrou em casa com vontade de voltar para o trabalho, só para não sentir o cheiro dele que ainda permaneciam nas fronhas da cama. A ponta da caneca quebrada, a fez lembrar do dia em que o namorado tropeçara no tapete do corredor e batera com a borda da caneca na porta.


— Aff! Que homem desastrado! —- Sorriu e entristeceu os olhos. — Como pode?Até dos defeitos sinto falta.

 

A casa parecia tão vazia e silenciosa sem a gargalhada dele ressoando pelos corredores. Marina sabia que aquele sentimento era passageiro, mas como evitá-lo? Como negá-lo? Parou, chorou um pouco, pensou por alguns minutos e esboçou confiante:


— Amanhã, adoto um cachorro!




Rose Rabelo

Autora


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Contos e Crônicas: Similaridades e Diferenças

 



   Contos e Crônicas são gêneros textuais distintos que se originam do mesmo tipo textual: o narrativo. Talvez, justamente por isso há dúvidas sobre a diferença entre eles, para sanar questões que possam ter entre esses dois gêneros vou pontuar algumas questões:

1)      Estrutura do texto: Contos possuem uma história concisa com começo, meio e fim. Poucos personagens e em geral um único conflito. Crônicas são igualmente concisas, porém retrata acontecimentos do cotidiano, sempre com fundo crítico. Pode ter poucos personagens ou nenhum;

2)      Tipo Textual: Contos são narrativos, Crônicas podem ser narrativas, ou seja, o conto possuirá uma história que envolve alguns personagens dentro de um tempo-espaço. Prevalecendo o ponto de vista do narrador. Já a crônica, pode ter essa estrutura ou ser descritivo, apenas descrevendo uma situação específica do cotidiano;

3)      Linguagem: Em geral a Crônica utiliza de uma linguagem mais coloquial, como se estivesse conversando com o leitor, mais objetiva. O conto pode conversar com o leitor, porém seguirá uma estrutura mais fixa (começo, meio, fim) e não se preocupará em escrever sobre assuntos cotidianos, ele pode inclusive falar sobre assuntos extraordinários, como por exemplo os contos fantásticos;

4)      Conclusão do Texto: Em geral os contos não possuem uma preocupação com a crítica social, eles podem conter, mas não necessariamente. Por outro lado, as crônicas estão atreladas há uma abordagem crítica baseada em assuntos cotidianos. Em geral utilizadas em meios jornalísticos.

     Em suma, Contos e Crônicas são narrativas deliciosas e se bem escritas levam o leitor a uma pequena viagem ao mundo das personagem ou a questionar-se sobre algo que esta acontecendo cotidianamente.

 Agora que você já sabe as similaridades e diferenças entre conto e crônica que tal experimentar na prática? Compartilhe suas histórias comigo. Vou adorar conversar sobre elas!

Um abraço, queridos Leitores!

Rose Rabelo

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Café

 



O aroma das manhãs;

Expresso

Para o primeiro convite;

Capuccino

Para fortalecer as amizades;

Frappe

Depois de um amor gostoso;

Duplo

Debaixo do cobertor acompanhados de um livro;

Mocha

Fortalecendo os laços;

Latte

Quase um abraço;

Macchiato

Misturado num beijo roubado ;

Amor em maré ...

Café!

Rose Rabelo
Autora

Poema Publicado na revista literária "Escrita Cafeína", seção cappuccino pequeno.


terça-feira, 29 de setembro de 2020

Os sapatos


    Desciam os sapatos pelas ruas da cidadela. Caminhavam apressados e com graça. Brilhantes, de couro bem tratado e certamente de fino dono, pois sua marca europeia não lhe deixava mentir. Faziam contatos laterais um com outro, paravam vez ou outra para que suas pernas pudessem descansar ou encontrar outros sapatos que pudessem se vangloriar. Afinal, nenhum sapato neste fim de mundo seria tão galante quanto ele.

    Atravessaram toda a praça da cidade, o chão de paralelepípedo brilhava quando pisados por eles, pelo menos era o que pensavam. Um banco comprido e largo foi avistado, suas pernas pararam. Um pequenino sapatinho desbotado surgiu, muito ao longe. Eram sapatos femininos, mas não possuíam tanta graça e cores como os que estavam acostumados a encontrar. Sentiram certa estranheza. O dois desengonçados caminhavam apressadamente ao seu encontro. Uma leve sensação de embrulho surgiu, não que sapatos tenham estômago, mas o sentimento foi real, é o que importa!

    Quando os pequenos sapatinhos pararam tímidos e um tanto vexados à sua frente. Os masculinos sorriram, porém não perceptivelmente, deram daqueles sorrisos para dentro não possíveis de observar a olhos nu. Foram poucos minutos ali, parados a observar e comparar de forma minuciosa e profunda, aqueles sapatinhos um tanto sem cor, amarelados, gastos e pouco interessantes. Sapatinhos que hora trepidavam os saltinhos, hora as pontas, pareciam nervosos. Saltos baixíssimos, nada parecidos com os saltos esguios e altíssimos das francesas e os brilhos das polacas que estavam acostumados. E as plumas? Ahhh, as plumas! Bastava um centímetro de aproximação para que aquelas pequenas esfregassem-se nas pontas de seu lustroso couro e ali ficassem. Frente a frente, às vezes, lado a lado, por uma noite ou duas … tudo dependia das vontades de suas pernas. Sapatos felizes!

    Uma pergunta era saliente naquele encontro. O que queriam suas pernas com aquelas dos dois pequenos e velhos sapatinhos?

    Conversa finda. Aos sapatos servem a missão de voltar à casa. Entrar pelos grandes portões luxuosos de sua mansão. Recostar-se em seu luxuoso Canapé. Enquanto seu dono, Fernando um tanto embriagado com uísque caro, sorri e observa seu patrimônio que herdaria da uns anos. E dava-se ao direito de esquecer o compromisso que firmara há alguns minutos atrás, com uma moça um tanto mais jovem que ele de sapatinhos empoeirados. Não por maldade ou falta de querer. Talvez, por culpa da bebida, da falta do que fazer ou da própria consciência que o arrebatou e tragou seu corpo ao fundo do canapé em sono profundo e sem hora para acordar, talvez …

    Jamais saberemos, sapatos não costumam prender-se tanto a detalhes acima de suas pernas.


Rose Rabelo

Autora

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Em Tempos de COVID-19


 Poema Publicado no Boletim da Secretaria de Saúde de São José, Santa Catarina.

Edição de Agosto, 2020.